Por Maria Letícia
Recém-lançada em março de 2021, a Enciclopédia Negra foi escrita pelos historiadores Lilia Moritz Schwarcz, Flávio dos Santos Gomes e o artista plástico Jaime Lauriano e é composta por 416 verbetes dedicados a personagens da história da luta do povo negro na sociedade brasileira ao longo dos últimos 500 anos. História de figuras conhecidas como Zumbi, Marielle, Pixinguinha e Chiquinha Gonzaga estão juntas de outras figuras anônimas que tiverem suas histórias apagadas socialmente. Independente da época as quais viveram, o único requisito dos autores era que as pessoas não estivessem mais vivas, para que se tornassem personagens da obra.
Lilia Moritz explicou em entrevista para o Correio Braziliense que a preocupação esteve em corrigir a invisibilização histórica: “Queríamos tratar do século 16 ao 21 e queríamos cobrir o Brasil em todas as suas regiões, e com uma preocupação de gênero. Há uma invisibilidade e silêncio grande em relação à população negra de maneira geral e, no que se refere às mulheres, o silenciamento é ainda maior. E por isso chamamos de enciclopédia, porque tem a tradição de ser o mais abrangente possível.” A enciclopédia conta com mais de 400 personagens da história negra.
A historiadora Sidnea Santos e pesquisadora com foco em africanidades a partir da pesquisa das heranças afro-brasileiras, em expecífico afro-ouropretanas, explicou a importância da enciclopédia: “A gente vive num Brasil que desde 2018 tem agravado, e muito, as questões do racismo. A gente vê todo dia uma notícia diferente que envolve prática racista junto, e isso é fruto do processo de colonização do qual a gente faz parte. Toda a nossa história foi contada até então por quem tinha nos colonizado, e, por óbvio, as questões que envolviam os povos originários, chamados de indígenas, e os povos africanos escravizados foram colocados em segundo plano. A nossa história foi embranquecida e o apagamento, a invisibilidade, o esquecimento conveniente das histórias que envolvem indígenas e negros foi feito.”
Em Ouro Preto, por conta da mineração do ouro, eram trazidos para cá um grande número de pessoas negras escravizadas que, assim como tantos outros, tiveram suas histórias apagadas. Além da pré-existência de inúmeros povos indígenas que perderam suas terras, como explica Sidnea: “A partir de 2003 com a criação da LEI No 10.639, a gente começou a ter acesso, são poucos de informação do que é esse continente africano, gigantesco e negro e de como a nossa vida está diretamente ligada a esse continente por conta da diáspora, e foi a partir daí que a gente começou a entender um pouco mais sobre a nossa própria história. O caso de Ouro Preto mesmo, as várias descobertas que a gente tem feito, os ideogramas a dicra, os povos bantos que habitaram essa região, a língua que era falada aqui, trazendo essa questão da pretinosidade de Ouro Preto e toda sua herança africana, então foi a partir de leis, como a LEI No 10.639 que a gente começou a tratar assuntos como esses.” Sidnea ainda ressalta que, em escala mundial, a invisibilização é ainda pior, já que pessoas negras que fizeram descobertas importantes para a tecnologia, evolução sociais, científicas e de outras áreas, não são mostradas e devidamente creditadas por suas descobertas.
Por Maria Letícia
Recém-lançada em março de 2021, a Enciclopédia Negra foi escrita pelos historiadores Lilia Moritz Schwarcz, Flávio dos Santos Gomes e o artista plástico Jaime Lauriano e é composta por 416 verbetes dedicados a personagens da história da luta do povo negro na sociedade brasileira ao longo dos últimos 500 anos. História de figuras conhecidas como Zumbi, Marielle, Pixinguinha e Chiquinha Gonzaga estão juntas de outras figuras anônimas que tiverem suas histórias apagadas socialmente. Independente da época as quais viveram, o único requisito dos autores era que as pessoas não estivessem mais vivas, para que se tornassem personagens da obra.
Lilia Moritz explicou em entrevista para o Correio Braziliense que a preocupação esteve em corrigir a invisibilização histórica: “Queríamos tratar do século 16 ao 21 e queríamos cobrir o Brasil em todas as suas regiões, e com uma preocupação de gênero. Há uma invisibilidade e silêncio grande em relação à população negra de maneira geral e, no que se refere às mulheres, o silenciamento é ainda maior. E por isso chamamos de enciclopédia, porque tem a tradição de ser o mais abrangente possível.” A enciclopédia conta com mais de 400 personagens da história negra.
A historiadora Sidnea Santos e pesquisadora com foco em africanidades a partir da pesquisa das heranças afro-brasileiras, em expecífico afro-ouropretanas, explicou a importância da enciclopédia: “A gente vive num Brasil que desde 2018 tem agravado, e muito, as questões do racismo. A gente vê todo dia uma notícia diferente que envolve prática racista junto, e isso é fruto do processo de colonização do qual a gente faz parte. Toda a nossa história foi contada até então por quem tinha nos colonizado, e, por óbvio, as questões que envolviam os povos originários, chamados de indígenas, e os povos africanos escravizados foram colocados em segundo plano. A nossa história foi embranquecida e o apagamento, a invisibilidade, o esquecimento conveniente das histórias que envolvem indígenas e negros foi feito.”
Em Ouro Preto, por conta da mineração do ouro, eram trazidos para cá um grande número de pessoas negras escravizadas que, assim como tantos outros, tiveram suas histórias apagadas. Além da pré-existência de inúmeros povos indígenas que perderam suas terras, como explica Sidnea: “A partir de 2003 com a criação da LEI No 10.639, a gente começou a ter acesso, são poucos de informação do que é esse continente africano, gigantesco e negro e de como a nossa vida está diretamente ligada a esse continente por conta da diáspora, e foi a partir daí que a gente começou a entender um pouco mais sobre a nossa própria história. O caso de Ouro Preto mesmo, as várias descobertas que a gente tem feito, os ideogramas a dicra, os povos bantos que habitaram essa região, a língua que era falada aqui, trazendo essa questão da pretinosidade de Ouro Preto e toda sua herança africana, então foi a partir de leis, como a LEI No 10.639 que a gente começou a tratar assuntos como esses.” Sidnea ainda ressalta que, em escala mundial, a invisibilização é ainda pior, já que pessoas negras que fizeram descobertas importantes para a tecnologia, evolução sociais, científicas e de outras áreas, não são mostradas e devidamente creditadas por suas descobertas.