Por Victor Stutz
A pandemia da “grippe hespanhola”, ou Dançarina, como era chamada, dizimou cerca de 30 milhões de pessoas no mundo, quase quatro vezes mais que a Primeira Guerra Mundial.
Os brasileiros, inicialmente, acompanharam a evolução da doença pelos jornais e acreditavam que ela nunca se propagaria em território nacional. Porém, conta-se que o vírus chegou no Rio de Janeiro em setembro de 1918, no barco Demerara, vindo de Lisboa com vários doentes a bordo. Seus tripulantes desembarcaram na Praça Mauá “já contaminados e contaminando”, conforme relatou o médico e escritor mineiro Pedro Nava.
As consequências da pandemia teriam sido agravadas, principalmente, pela desinformação da população e pela fé em remédios milagrosos, como uma solução caseira produzida pela mistura de cachaça com mel e limão. Supõe-se que assim surgiu a nossa famosa caipirinha. Em suas memórias, Nava relatou também que, na época, “fórmulas industriais bestas fizeram verdadeiras fortunas”.
Para reduzir os riscos de contágio, escolas, cinemas, teatros, praças e jardins foram fechados e as igrejas tiveram que controlar o número de fiéis nas missas. Os enterros não podiam ser acompanhados a pé e as compras só podiam ser feitas por uma única pessoa da família.
A gripe afetou drasticamente também a política nacional ao atingir em cheio o presidente eleito em 1918, Rodrigues Alves, que morreu em janeiro de 1919, antes de tomar posse de seu segundo mandato. O vice Delfim Moreira assumiu o cargo e uma nova eleição foi convocada, tendo Epitácio Pessoa vencido o pleito.
As autoridades demoraram a abrir os olhos, foi inicialmente considerada uma doença comum que atacava especialmente os idosos. Segundo a historiadora Adriana da Costa Goulart, Mestre em História Social pela Universidade Federal Fluminense, foi chamada popularmente de 'limpa-velhos', mas “colhia os indivíduos, sobretudo entre 20 e 40 anos, o que causou surpresa nos círculos médicos”. No Brasil, estima-se que a espanhola provocou a morte de 35 mil pessoas.
A Espanhola em Minas e Ouro Preto
Dizem que pouco foi feito pelo governo estadual. Este, apenas encaminhou médicos para 40 dos 178 municípios mineiros.
Belo Horizonte, com 45 mil habitantes na época, teve cerca de 15 mil pessoas infectadas, um terço de sua população, e 240 perderam suas vidas na pandemia do início do século XX. A historiadora Heloisa Starling, estudiosa da história da escola de medicina, conta que o vírus teria chegado na capital mineira de trem, em outubro de 1918, com a família de um militar que se instalou no bairro Floresta. Ela relata que a notícia da pandemia foi recebida com descrédito em Belo Horizonte. O prefeito Affonso Vaz de Mello, além de providenciar a desinfecção diária dos bondes, mandou fechar o comércio e decretou medidas para impedir aglomerações de pessoas, o que desagradou bastante a população.
Em Ouro Preto, a espanhola teria atingido aproximadamente 4 mil pessoas e causado a morte de 71. A sede e os distritos contavam, naquele tempo, com pouco mais de 50 mil habitantes.
A gripe espanhola se tornou conhecida como o “maior holocausto médico da história” e seu declínio ocorreu de forma ainda inexplicável. O certo é que os avanços da ciência fizeram os tratamentos e as condutas de prevenção evoluírem bastante, o que foi inquestionavelmente valioso para a superação dessa triste página da trajetória humana no planeta.
Por Victor Stutz
A pandemia da “grippe hespanhola”, ou Dançarina, como era chamada, dizimou cerca de 30 milhões de pessoas no mundo, quase quatro vezes mais que a Primeira Guerra Mundial.
Os brasileiros, inicialmente, acompanharam a evolução da doença pelos jornais e acreditavam que ela nunca se propagaria em território nacional. Porém, conta-se que o vírus chegou no Rio de Janeiro em setembro de 1918, no barco Demerara, vindo de Lisboa com vários doentes a bordo. Seus tripulantes desembarcaram na Praça Mauá “já contaminados e contaminando”, conforme relatou o médico e escritor mineiro Pedro Nava.
As consequências da pandemia teriam sido agravadas, principalmente, pela desinformação da população e pela fé em remédios milagrosos, como uma solução caseira produzida pela mistura de cachaça com mel e limão. Supõe-se que assim surgiu a nossa famosa caipirinha. Em suas memórias, Nava relatou também que, na época, “fórmulas industriais bestas fizeram verdadeiras fortunas”.
Para reduzir os riscos de contágio, escolas, cinemas, teatros, praças e jardins foram fechados e as igrejas tiveram que controlar o número de fiéis nas missas. Os enterros não podiam ser acompanhados a pé e as compras só podiam ser feitas por uma única pessoa da família.
A gripe afetou drasticamente também a política nacional ao atingir em cheio o presidente eleito em 1918, Rodrigues Alves, que morreu em janeiro de 1919, antes de tomar posse de seu segundo mandato. O vice Delfim Moreira assumiu o cargo e uma nova eleição foi convocada, tendo Epitácio Pessoa vencido o pleito.
As autoridades demoraram a abrir os olhos, foi inicialmente considerada uma doença comum que atacava especialmente os idosos. Segundo a historiadora Adriana da Costa Goulart, Mestre em História Social pela Universidade Federal Fluminense, foi chamada popularmente de 'limpa-velhos', mas “colhia os indivíduos, sobretudo entre 20 e 40 anos, o que causou surpresa nos círculos médicos”. No Brasil, estima-se que a espanhola provocou a morte de 35 mil pessoas.
A Espanhola em Minas e Ouro Preto
Dizem que pouco foi feito pelo governo estadual. Este, apenas encaminhou médicos para 40 dos 178 municípios mineiros.
Belo Horizonte, com 45 mil habitantes na época, teve cerca de 15 mil pessoas infectadas, um terço de sua população, e 240 perderam suas vidas na pandemia do início do século XX. A historiadora Heloisa Starling, estudiosa da história da escola de medicina, conta que o vírus teria chegado na capital mineira de trem, em outubro de 1918, com a família de um militar que se instalou no bairro Floresta. Ela relata que a notícia da pandemia foi recebida com descrédito em Belo Horizonte. O prefeito Affonso Vaz de Mello, além de providenciar a desinfecção diária dos bondes, mandou fechar o comércio e decretou medidas para impedir aglomerações de pessoas, o que desagradou bastante a população.
Em Ouro Preto, a espanhola teria atingido aproximadamente 4 mil pessoas e causado a morte de 71. A sede e os distritos contavam, naquele tempo, com pouco mais de 50 mil habitantes.
A gripe espanhola se tornou conhecida como o “maior holocausto médico da história” e seu declínio ocorreu de forma ainda inexplicável. O certo é que os avanços da ciência fizeram os tratamentos e as condutas de prevenção evoluírem bastante, o que foi inquestionavelmente valioso para a superação dessa triste página da trajetória humana no planeta.