Por Hellen Perucci
O Ministério Público de Minas Gerais acatou a denúncia conjunta dos proprietários de animais atingidos pela barragem de Fundão em Mariana e da assessoria técnica Caritas, contra a Fundação Renova. A fundação é acusada de descumprir uma série de acordos de cuidados aos animais. Dentre eles no que diz respeito ao fornecimento de alimentação: o envio de comida insuficiente ou inadequada tem causado fome e até a morte, o que configura maus-tratos.
Após o rompimento da barragem de Mariana, foram assinados diversos acordos em que as mineradoras Samarco, Vale e BHP se responsabilizavam pelos cuidados aos animais atingidos. Um dos mais importantes diz respeito ao fornecimento de alimentação adequada, mas as famílias atingidas têm reportado problemas desde 2017. Elas relatam que os alimentos precisam ser buscados em grandes distâncias ou não são entregues no prazo.
Muitas vezes, elas recebem quantidade insuficiente para os animais e não conseguem adquirir alimento extra na região em razão da escassez provocada pelo desastre e da queda na renda das famílias. “Agora a silagem tá vindo, mas sempre quando atrasa aqui, atrasa para todo mundo também”, destaca Marta de Jesus Peixoto, atingida de Paracatu de Cima que já enfrentou períodos sem receber a alimentação animal e, por vezes, recebeu alimento estragado para os animais.
A situação se agrava quando se trata das criações de cavalos que precisam comer feno, alimento que está sempre em escassez, segundo os responsáveis pelos animais. E como último recurso, os criadores submetem seus cavalos à substituição do feno por silagem (alimento fermentado prejudicial para o aparelho gastrointestinal de animais não-ruminantes), alimento não recomendado por gerar problemas nas articulações e prejuízo na locomoção dos animais. Mesmo com essa substituição, os animais ficam desnutridos, o que tem provocado abortos nas éguas.
Outra preocupação dos criadores, os animais que foram levados para uma fazenda em Barra Longa, sob responsabilidade da Fundação Renova, também estão em risco. Há relatos de atingidos que viram seus animais magros, sem aparo da crina, com casco desgastado e sem doma, o que os torna mais agressivos com o tempo.
A dificuldade de convivência dos proprietários com suas criações ficou ainda mais complicada durante a pandemia da Covid-19. Essa situação é um fator de sofrimento para as pessoas, como Claudiano dos Santos, atingido de Bento Rodrigues, que recebeu uma foto de um dos seus cavalos com ferimentos no olho. Alguns dias depois, ele ficou cego. O atingido suspeita que isso tenha ocorrido pelo fato de esse equino estar no mesmo piquete com outro garanhão, ação não recomendada pois os bichos podem se machucar com coices. Claudiano não recebeu nenhuma explicação.
Gladson Figueiredo, coordenador operacional da Caritas, explicou o que essa situação significa para os moradores ecomo a alimentação não fornecida e inadequada dos animais pode afetar as famílias nos campos afetivos e econômicos:
"Os animais não se reproduzirem compromete a renda futura desses proprietários rurais. E isso está dentro da obrigação de reparação do dano causado. Essa alimentação sempre chega de qualidade e em quantidade necessitária. Registros fotográficos de silagem, mofada, estragada, com bicho, ou seja, uma situação extremamente degradante. Os atingidos nunca tem certeza se vão receber alimentação para os seus animais ou não. Então, são situações graves e que tem comprometido a vida dos animais e sobretudo a capacidade de sobrevivência os produtores rurais".
Em nota, a Fundação Renova informou que tem como obrigação manter esse atendimento até que a retomada das atividades produtivas seja realizada, conforme cláusula 125 do Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta. Para esse fornecimento existem critérios que levam em consideração o impacto e as áreas das propriedades rurais e das áreas urbanizadas.
A Fundação esclarece, ainda, que há famílias que têm se recusado a receber a alimentação fornecida sob o argumento de não concordar com o tipo de alimentação. Tal fato será demonstrado ao Ministério Público para investigação. A Fundação Renova reitera que todos os produtores têm canal aberto com as equipes da Renova para demais esclarecimentos que se fizerem necessários em relação às quantidades de insumos que estão recebendo e aos critérios estabelecidos, sempre guardando a isonomia do processo.
Por Hellen Perucci
O Ministério Público de Minas Gerais acatou a denúncia conjunta dos proprietários de animais atingidos pela barragem de Fundão em Mariana e da assessoria técnica Caritas, contra a Fundação Renova. A fundação é acusada de descumprir uma série de acordos de cuidados aos animais. Dentre eles no que diz respeito ao fornecimento de alimentação: o envio de comida insuficiente ou inadequada tem causado fome e até a morte, o que configura maus-tratos.
Após o rompimento da barragem de Mariana, foram assinados diversos acordos em que as mineradoras Samarco, Vale e BHP se responsabilizavam pelos cuidados aos animais atingidos. Um dos mais importantes diz respeito ao fornecimento de alimentação adequada, mas as famílias atingidas têm reportado problemas desde 2017. Elas relatam que os alimentos precisam ser buscados em grandes distâncias ou não são entregues no prazo.
Muitas vezes, elas recebem quantidade insuficiente para os animais e não conseguem adquirir alimento extra na região em razão da escassez provocada pelo desastre e da queda na renda das famílias. “Agora a silagem tá vindo, mas sempre quando atrasa aqui, atrasa para todo mundo também”, destaca Marta de Jesus Peixoto, atingida de Paracatu de Cima que já enfrentou períodos sem receber a alimentação animal e, por vezes, recebeu alimento estragado para os animais.
A situação se agrava quando se trata das criações de cavalos que precisam comer feno, alimento que está sempre em escassez, segundo os responsáveis pelos animais. E como último recurso, os criadores submetem seus cavalos à substituição do feno por silagem (alimento fermentado prejudicial para o aparelho gastrointestinal de animais não-ruminantes), alimento não recomendado por gerar problemas nas articulações e prejuízo na locomoção dos animais. Mesmo com essa substituição, os animais ficam desnutridos, o que tem provocado abortos nas éguas.
Outra preocupação dos criadores, os animais que foram levados para uma fazenda em Barra Longa, sob responsabilidade da Fundação Renova, também estão em risco. Há relatos de atingidos que viram seus animais magros, sem aparo da crina, com casco desgastado e sem doma, o que os torna mais agressivos com o tempo.
A dificuldade de convivência dos proprietários com suas criações ficou ainda mais complicada durante a pandemia da Covid-19. Essa situação é um fator de sofrimento para as pessoas, como Claudiano dos Santos, atingido de Bento Rodrigues, que recebeu uma foto de um dos seus cavalos com ferimentos no olho. Alguns dias depois, ele ficou cego. O atingido suspeita que isso tenha ocorrido pelo fato de esse equino estar no mesmo piquete com outro garanhão, ação não recomendada pois os bichos podem se machucar com coices. Claudiano não recebeu nenhuma explicação.
Gladson Figueiredo, coordenador operacional da Caritas, explicou o que essa situação significa para os moradores ecomo a alimentação não fornecida e inadequada dos animais pode afetar as famílias nos campos afetivos e econômicos:
"Os animais não se reproduzirem compromete a renda futura desses proprietários rurais. E isso está dentro da obrigação de reparação do dano causado. Essa alimentação sempre chega de qualidade e em quantidade necessitária. Registros fotográficos de silagem, mofada, estragada, com bicho, ou seja, uma situação extremamente degradante. Os atingidos nunca tem certeza se vão receber alimentação para os seus animais ou não. Então, são situações graves e que tem comprometido a vida dos animais e sobretudo a capacidade de sobrevivência os produtores rurais".
Em nota, a Fundação Renova informou que tem como obrigação manter esse atendimento até que a retomada das atividades produtivas seja realizada, conforme cláusula 125 do Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta. Para esse fornecimento existem critérios que levam em consideração o impacto e as áreas das propriedades rurais e das áreas urbanizadas.
A Fundação esclarece, ainda, que há famílias que têm se recusado a receber a alimentação fornecida sob o argumento de não concordar com o tipo de alimentação. Tal fato será demonstrado ao Ministério Público para investigação. A Fundação Renova reitera que todos os produtores têm canal aberto com as equipes da Renova para demais esclarecimentos que se fizerem necessários em relação às quantidades de insumos que estão recebendo e aos critérios estabelecidos, sempre guardando a isonomia do processo.