Por Hellen Perucci
Quando o inverno chegava e junto dele as férias escolares, sempre tive um costume muito feliz: convidar amigos e parentes para ouropretar. Gostávamos de ir de trem partindo de Mariana, sempre preocupados em estar do lado que passava pertinho da cachoeira! E juntos, sempre combinamos de usar nossas melhores roupas: boinas, lenços, botas, jaquetas, sobretudo. Como se durante o restante do ano não fossemos voltar mais naquela cidade para resolver os contratempos que a vida normalmente exige que a gente despache.
Vez ou outra gostava de passear sozinha. Entre uma escapada e outra da rotina corrida, me sentava de frente para a praça Tiradentes, numa “beiradinha” do prédio do Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas, prédio inaugurado em 1876, e gostava (e muito) de observar… Até que,“Você pode tirar uma foto pra gente?” Ouvia essa frase e logo me colocava à disposição para que os casais apaixonados ou grupos de amigos, pudessem registrar o momento na cidade patrimônio mundial.
E eu concluí que Ouropretar é ir além de ostentar belas roupas de inverno com as pessoas que eu gosto, não é uma brincadeira interna. Ouropretar é como preparar uma receita daquelas bem polêmicas como broa de fubá ou até o pão de queijo: cada um tem seu jeito de fazê-lo, mas a essência é a mesma. Pode-se referir a passeios culturais diurnos, a professar a fé, ou uma noitada no CAEM, ou resolver burocracias, ou ligar para a rádio e celebrar o Real (aqui utilizo a única ficha para fazer trocadilhos), ou tomar café e celebrar a boemia.
Ouropretar é um verbo e, ao mesmo tempo, um estado de espírito. Tem Ouro Preto para quem é folião, cristão, boêmio; para quem vem, quem vai e quem está; quem virá, quem foi, quem estará; quem busca curtir, estudar ou investigar a poesia, a arquitetura e a geologia. Ouropretar também é chorar por lembrar às vezes que o mal venceu o bem, ou que a vida mudou de repente, num relance. E ainda assim, se perder na beleza das fotografias da cidade que a cada dia e a cada lua fica mais linda.
Com tudo isso,“À terra que um cento de anos três vezes viu passar” se prepara para celebrar seus 311 anos, de um chão rico, um ar frio e da história que fez acontecer no mundo artístico e da independência do Brasil: segundo o livro “O Tiradentes” de Lucas Figueiredo, o líder da Inconfidência Mineira se preparava para suas andanças enquanto Aleijadinho esculpia suas obras na cidade marcada pelas ladeiras. Traduzindo, somente entre nós, o dentista e alferes fez algo parecido com “opa, bão!” para o artista enquanto as belas obras barrocas da cidade eram esculpidas.
E de repente tudo muda. O que antes era celebrado coletivamente, com afeto e muita hospitalidade, agora passa por regras de proteção, EPI 's para que o contágio desse tão terrível vírus não aconteça. E traz saudades, numa intensidade incalculável, de ouvir histórias, cumprimentar desconhecidos e ser a desconhecida que fotografa pessoas por aí, de sair despretensiosamente e a única preocupação era se a foto ficou boa, já que perder o último ônibus significava contemplar a noite da cidade patrimônio mundial.
A nossa Ouro Preto resiste como Tiradentes, ao disparar na campanha de imunização e artística como Aleijadinho, enquanto incentiva a cultura e os eventos de forma online. Mas agora, Ouropretar é vacinar, participar da campanha do agasalho e respeitar os protocolos sanitários de proteção contra a COVID-19. Para, quem sabe, sem se conhecer a gente se comprimente e se fotografe por aí, sem preocupações?
Que notícias me dão de você?
Por Hellen Perucci
Quando o inverno chegava e junto dele as férias escolares, sempre tive um costume muito feliz: convidar amigos e parentes para ouropretar. Gostávamos de ir de trem partindo de Mariana, sempre preocupados em estar do lado que passava pertinho da cachoeira! E juntos, sempre combinamos de usar nossas melhores roupas: boinas, lenços, botas, jaquetas, sobretudo. Como se durante o restante do ano não fossemos voltar mais naquela cidade para resolver os contratempos que a vida normalmente exige que a gente despache.
Vez ou outra gostava de passear sozinha. Entre uma escapada e outra da rotina corrida, me sentava de frente para a praça Tiradentes, numa “beiradinha” do prédio do Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas, prédio inaugurado em 1876, e gostava (e muito) de observar… Até que,“Você pode tirar uma foto pra gente?” Ouvia essa frase e logo me colocava à disposição para que os casais apaixonados ou grupos de amigos, pudessem registrar o momento na cidade patrimônio mundial.
E eu concluí que Ouropretar é ir além de ostentar belas roupas de inverno com as pessoas que eu gosto, não é uma brincadeira interna. Ouropretar é como preparar uma receita daquelas bem polêmicas como broa de fubá ou até o pão de queijo: cada um tem seu jeito de fazê-lo, mas a essência é a mesma. Pode-se referir a passeios culturais diurnos, a professar a fé, ou uma noitada no CAEM, ou resolver burocracias, ou ligar para a rádio e celebrar o Real (aqui utilizo a única ficha para fazer trocadilhos), ou tomar café e celebrar a boemia.
Ouropretar é um verbo e, ao mesmo tempo, um estado de espírito. Tem Ouro Preto para quem é folião, cristão, boêmio; para quem vem, quem vai e quem está; quem virá, quem foi, quem estará; quem busca curtir, estudar ou investigar a poesia, a arquitetura e a geologia. Ouropretar também é chorar por lembrar às vezes que o mal venceu o bem, ou que a vida mudou de repente, num relance. E ainda assim, se perder na beleza das fotografias da cidade que a cada dia e a cada lua fica mais linda.
Com tudo isso,“À terra que um cento de anos três vezes viu passar” se prepara para celebrar seus 311 anos, de um chão rico, um ar frio e da história que fez acontecer no mundo artístico e da independência do Brasil: segundo o livro “O Tiradentes” de Lucas Figueiredo, o líder da Inconfidência Mineira se preparava para suas andanças enquanto Aleijadinho esculpia suas obras na cidade marcada pelas ladeiras. Traduzindo, somente entre nós, o dentista e alferes fez algo parecido com “opa, bão!” para o artista enquanto as belas obras barrocas da cidade eram esculpidas.
E de repente tudo muda. O que antes era celebrado coletivamente, com afeto e muita hospitalidade, agora passa por regras de proteção, EPI 's para que o contágio desse tão terrível vírus não aconteça. E traz saudades, numa intensidade incalculável, de ouvir histórias, cumprimentar desconhecidos e ser a desconhecida que fotografa pessoas por aí, de sair despretensiosamente e a única preocupação era se a foto ficou boa, já que perder o último ônibus significava contemplar a noite da cidade patrimônio mundial.
A nossa Ouro Preto resiste como Tiradentes, ao disparar na campanha de imunização e artística como Aleijadinho, enquanto incentiva a cultura e os eventos de forma online. Mas agora, Ouropretar é vacinar, participar da campanha do agasalho e respeitar os protocolos sanitários de proteção contra a COVID-19. Para, quem sabe, sem se conhecer a gente se comprimente e se fotografe por aí, sem preocupações?
Que notícias me dão de você?