Por Hellen Perucci
O relatório final “Covid-19 em regiões mineradas na Bacia do Rio Doce (MG)” foi publicado coletivamente pelo Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Coletivo Margarida Alves de Assessoria Popular e pela Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale (AIAAV), com apoio da agência de cooperação alemã Misereor e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
E constatou, através da análise dos dados oficiais da Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e de prefeituras da região da Serra do Caraça de março de 2020 até abril de 2021, que municípios com atividades minerárias têm maior número de casos e de óbitos pelo novo coronavírus. É importante lembrar que em 28 de março de 2020, o Governo Federal reconheceu, através de uma portaria, a mineração como atividade essencial durante a pandemia.
O estudo classificou os municípios em muito minerados, minerados ou não minerados de acordo com a intensidade de mineração nas cidades. Na microrregião de Ouro Preto, os municípios Ouro Preto, Mariana e Itabirito foram classificados como muito minerados e Diogo de Vasconcelos classificado como não minerado. Somados a microrregião de Itabira, somam 22 municípios que totalizaram 22.722 casos de COVID-19 em que 21.732 ocorreram em municípios onde existe atividade mineral.
De acordo com o relatório final, no ano de 2020, 78,57% dos casos confirmados de COVID-19 nas microrregiões de Ouro Preto e Itabira, foram registrados em municípios muito minerados (Barão de Cocais, Catas Altas, Itabira, Itabirito, Mariana, Ouro Preto, Rio Piracicaba, Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo); 17,08% nos minerados (Bela Vista de Minas, Bom Jesus do Amparo, João Monlevade, Nova Era, Nova União e Santa Maria de Itabira); E 4,36% nos não minerados ( Alvinópolis, Diogo de Vasconcelos, Dionísio, Ferros, São Domingos do Prata, São José do Goiabal e Taquaraçu de Minas).
Em relação ao número de óbitos por COVID - 19, nos municípios com atividade mineral foram registrados 93,39% das mortes pelo novo coronavírus na região analisada.
Luiz Siqueira, um dos autores, falou sobre a importância do estudo:
“O estudo, ele tem uma importância para a região minerada, porque demonstra claramente, através dos dados disponibilizados pela Secretaria Estadual de Saúde e Secretarias Municipais, que nos lugares onde há intensa atividade minerária, teve-se um boom de casos de covid muito rápido, de forma acelerada. Ou seja, a mineração, por ter mantido as operações em meio a pandemia, e todo esse esforço de se declararem como atividades essenciais [e sabemos que não é, né? Não é essencial nesse momento a gente exportar minério de ferro] fez com que os trabalhadores se aglomerassem, é inerente da atividade de mineração essas aglomerações, seja nos pontos de ônibus, seja dentro dos transportes que vão levar os trabalhadores nas comunidades até os postos de trabalho”.
E alertou sobre o que mais chamou a atenção na microrregião de Ouro Preto e Itabira:
“O que chama atenção, em especial, na microrregião de Ouro Preto, de Itabira, que é um polo, né, de produção mineral, então, os maiores minas do estado, estão nessa região, é justamente esse boom de casos relacionados aos trabalhadores da mineração. Não só os trabalhadores, mas consequentemente aos bairros que concentram o maior número deles. Então, é mais um elemento que evidencia como é que a mineração se comportou como um vetor que acelerou a transmissão da doença na região, nessas regiões. Seja das empresas diretas, da Vale, Anglogold, da Samarco, da Gerdau, seja das terceirizadas”.
Outras duas grandes regiões também participaram da pesquisa: A bacia do Rio Doce e imediações com período referência de 04 de março de 2020 à 29 de outubro do mesmo ano; a região da Serra do Caraça, com período referência sendo o dia 30/11/2020; E as microrregiões de Itabira e Ouro Preto com período referência de 11/01/2021 e com uma atualização de dados de Abril do mesmo ano. Em todas as áreas, os casos de casos de coronavírus em municípios com atividade mineradora foi maior. O estudo completo você pode conferir aqui.
MINÉRIO DE FERRO DURANTE A PANDEMIA
De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), os dados das exportações no terceiro trimestre de 2020 indicam uma retomada da lucratividade, principalmente para o minério de ferro, minério de ouro e minério de manganês.
A análise do Instituto ainda afirma que no balanço das principais empresas produtoras (Vale, CSN e Anglo American), constatou-se uma recuperação no volume de produção mineral, a partir da revisão das metas de produção para 2020.
E segundo a Folha de São Paulo, a empresa Vale creditou o aumento dos lucros ao “Efeito covid” em que A Vale registrou lucro líquido de R$ 15,6 bilhões no terceiro trimestre de 2020, mais que o dobro dos R$ 6,5 bilhões registrados no mesmo período em 2019. O melhor resultado aconteceu principalmente pelo aumento de 26% dos preços realizados de minério de ferro e pela alta de 20% no volume de vendas no período.
MEDIDAS INICIAIS
Em 21 de maio de 2020, após dois funcionários terceirizados testarem positivo para a Covid-19, a prefeitura de Mariana através do Comitê Gestor do Plano de Prevenção e Contingenciamento em Saúde – Covid-19 determinou a paralisação das obras da Renova para que se apresentasse o Plano de Prevenção e Contingenciamento em Saúde. E retomou as atividades a partir do dia 15 de junho do mesmo ano.
Em Itabira, no dia 27 de maio, a justiça do trabalho interditou minas da Vale após 200 casos de Covid-19. A fiscalização detectou irregularidades no complexo como aglomerações e falta de estudo epidemiológico após aparecimento de casos. Uma liminar obtida na madrugada do dia 28 garantiu que a empresa continuasse funcionando. E no começo de junho, a interdição aconteceu novamente e em 18 de junho do mesmo ano, teve autorização para retomar as atividades.
Por Hellen Perucci
O relatório final “Covid-19 em regiões mineradas na Bacia do Rio Doce (MG)” foi publicado coletivamente pelo Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Coletivo Margarida Alves de Assessoria Popular e pela Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale (AIAAV), com apoio da agência de cooperação alemã Misereor e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
E constatou, através da análise dos dados oficiais da Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e de prefeituras da região da Serra do Caraça de março de 2020 até abril de 2021, que municípios com atividades minerárias têm maior número de casos e de óbitos pelo novo coronavírus. É importante lembrar que em 28 de março de 2020, o Governo Federal reconheceu, através de uma portaria, a mineração como atividade essencial durante a pandemia.
O estudo classificou os municípios em muito minerados, minerados ou não minerados de acordo com a intensidade de mineração nas cidades. Na microrregião de Ouro Preto, os municípios Ouro Preto, Mariana e Itabirito foram classificados como muito minerados e Diogo de Vasconcelos classificado como não minerado. Somados a microrregião de Itabira, somam 22 municípios que totalizaram 22.722 casos de COVID-19 em que 21.732 ocorreram em municípios onde existe atividade mineral.
De acordo com o relatório final, no ano de 2020, 78,57% dos casos confirmados de COVID-19 nas microrregiões de Ouro Preto e Itabira, foram registrados em municípios muito minerados (Barão de Cocais, Catas Altas, Itabira, Itabirito, Mariana, Ouro Preto, Rio Piracicaba, Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo); 17,08% nos minerados (Bela Vista de Minas, Bom Jesus do Amparo, João Monlevade, Nova Era, Nova União e Santa Maria de Itabira); E 4,36% nos não minerados ( Alvinópolis, Diogo de Vasconcelos, Dionísio, Ferros, São Domingos do Prata, São José do Goiabal e Taquaraçu de Minas).
Em relação ao número de óbitos por COVID - 19, nos municípios com atividade mineral foram registrados 93,39% das mortes pelo novo coronavírus na região analisada.
Luiz Siqueira, um dos autores, falou sobre a importância do estudo:
“O estudo, ele tem uma importância para a região minerada, porque demonstra claramente, através dos dados disponibilizados pela Secretaria Estadual de Saúde e Secretarias Municipais, que nos lugares onde há intensa atividade minerária, teve-se um boom de casos de covid muito rápido, de forma acelerada. Ou seja, a mineração, por ter mantido as operações em meio a pandemia, e todo esse esforço de se declararem como atividades essenciais [e sabemos que não é, né? Não é essencial nesse momento a gente exportar minério de ferro] fez com que os trabalhadores se aglomerassem, é inerente da atividade de mineração essas aglomerações, seja nos pontos de ônibus, seja dentro dos transportes que vão levar os trabalhadores nas comunidades até os postos de trabalho”.
E alertou sobre o que mais chamou a atenção na microrregião de Ouro Preto e Itabira:
“O que chama atenção, em especial, na microrregião de Ouro Preto, de Itabira, que é um polo, né, de produção mineral, então, os maiores minas do estado, estão nessa região, é justamente esse boom de casos relacionados aos trabalhadores da mineração. Não só os trabalhadores, mas consequentemente aos bairros que concentram o maior número deles. Então, é mais um elemento que evidencia como é que a mineração se comportou como um vetor que acelerou a transmissão da doença na região, nessas regiões. Seja das empresas diretas, da Vale, Anglogold, da Samarco, da Gerdau, seja das terceirizadas”.
Outras duas grandes regiões também participaram da pesquisa: A bacia do Rio Doce e imediações com período referência de 04 de março de 2020 à 29 de outubro do mesmo ano; a região da Serra do Caraça, com período referência sendo o dia 30/11/2020; E as microrregiões de Itabira e Ouro Preto com período referência de 11/01/2021 e com uma atualização de dados de Abril do mesmo ano. Em todas as áreas, os casos de casos de coronavírus em municípios com atividade mineradora foi maior. O estudo completo você pode conferir aqui.
MINÉRIO DE FERRO DURANTE A PANDEMIA
De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), os dados das exportações no terceiro trimestre de 2020 indicam uma retomada da lucratividade, principalmente para o minério de ferro, minério de ouro e minério de manganês.
A análise do Instituto ainda afirma que no balanço das principais empresas produtoras (Vale, CSN e Anglo American), constatou-se uma recuperação no volume de produção mineral, a partir da revisão das metas de produção para 2020.
E segundo a Folha de São Paulo, a empresa Vale creditou o aumento dos lucros ao “Efeito covid” em que A Vale registrou lucro líquido de R$ 15,6 bilhões no terceiro trimestre de 2020, mais que o dobro dos R$ 6,5 bilhões registrados no mesmo período em 2019. O melhor resultado aconteceu principalmente pelo aumento de 26% dos preços realizados de minério de ferro e pela alta de 20% no volume de vendas no período.
MEDIDAS INICIAIS
Em 21 de maio de 2020, após dois funcionários terceirizados testarem positivo para a Covid-19, a prefeitura de Mariana através do Comitê Gestor do Plano de Prevenção e Contingenciamento em Saúde – Covid-19 determinou a paralisação das obras da Renova para que se apresentasse o Plano de Prevenção e Contingenciamento em Saúde. E retomou as atividades a partir do dia 15 de junho do mesmo ano.
Em Itabira, no dia 27 de maio, a justiça do trabalho interditou minas da Vale após 200 casos de Covid-19. A fiscalização detectou irregularidades no complexo como aglomerações e falta de estudo epidemiológico após aparecimento de casos. Uma liminar obtida na madrugada do dia 28 garantiu que a empresa continuasse funcionando. E no começo de junho, a interdição aconteceu novamente e em 18 de junho do mesmo ano, teve autorização para retomar as atividades.